sábado, 16 de abril de 2016

Novas solidões?



Shirky é professor do Programa de Telecomunicações Interativas da Universidade de Nova York e em seu livro A cultura da participação (2010) propõe uma hipótese a respeito de por que as pessoas passaram de maneira intensa e coletiva a compartilhar informações, fotos, opiniões, via internet.



Shirky descreve a sociedade como tendo ficado por um certo tempo parada na frente da televisão. Os dados que disponibiliza são de que pessoas de países industrializados passavam, em média, de 20 a 30 horas por semana assistindo à TV. Atualmente, de 2002 para cá, os mais jovens vêm assistindo menos à televisão que os mais velhos.

O autor coloca que diversos estudos relacionavam a grande quantidade de horas na frente da TV com a falta de qualidade de vida e insatisfações no campo da vida social; no entanto, Shirky propõe que ver TV não era o problema, mas a tentativa de resolução de um problema.
O problema que a TV veio "solucionar" foi um excedente de tempo, resultante da revolução industrial, das horas determinadas de trabalho e das novas tecnologias domésticas. As famílias tinham tempo livre, que a televisão veio ocupar.

É a mesma lógica que Shirky usa para pensar a "cultura da participação". Segundo o autor, há um excesso de tempo livre, unido a uma nova possibilidade tecnológica, criando excedente cognitivo que, devido ao esgarçamento do tecido social como o conhecíamos, criou uma nova configuração social na qual as pessoas, cidadãos comuns, passaram a fazer parte integrante de um novo panorama de mídia.

A ideia, segundo Shirky, é a de que o usuário saiu do papel de mero "consumidor" de informação, para cocriador dela. No entanto, segundo a teorização de consumo de Baudrillard, as mídias sociais, seus usuários e a forma dessa interação acontecer são mediadas pelo mito operador do consumo enquanto moral do mundo contemporâneo. Vimos aqui que consumo se dá como operador simbólico social.


Podemos exemplificar a crítica de Baudrillard considerando que o Facebook hoje é o maior compêndio de informação de marketing global, exatamente por ter seu conteúdo gerado pelo usuário. Contém ali informações de consumo mais eficazes e verdadeiras do que qualquer pesquisa de mercado poderia alcançar.

É comum vermos as pessoas se dividindo, parcelando a atenção, o contato, como se a tela do computador ou do celular, com muitos ícones em aberto, fosse uma representação gráfica adequada das pessoas que conversam e imediatamente postam um comentário daquela mesma conversa no Facebook, de nós quando estamos em uma festa, tiramos uma foto e compartilhamos (via Facebook, Instagram), dos que estão no cinema e em uma cena pouco interessante "conversam" com algum amigo via mensagem no celular.

Uma questão importante que se sobressai nessa situação de estar 24h conectado é a sensação de estar sempre acompanhado por olhos e ouvidos. A tecnologia providenciaria uma impressão de escuta permanente. No entanto, esse acompanhamento virtual constante cria algumas ideias que merecem ser discutidas com atenção.

Podemos ter a sensação de que, com o Iphone carregado e tendo a conexão necessária (isso é, dadas as condições preservadas), três ideias se colocam como "verdadeiras": a primeira é a de que podemos colocar nossa atenção em que quisermos, a segunda, que seremos sempre ouvidos e a terceira, finalmente, que nunca ficaremos sós.

A ideia de que a conexão protege da solidão e do desamparo pode ser benéfica em um mundo contemporâneo no qual as configurações familiares e sociais providenciam cada vez menos companhia e apoio; no entanto, na medida em que o que se torna natural é estar permanentemente acompanhado, não por um, não por alguns, mas por muitos "amigos" (vozes e ouvidos via comentários, mensagens, "curtidas" nas fotos etc.), a solidão passa a ser vista e sentida com pavor, como aterrorizante, como um estado de desligamento contra o qual tem de se lutar, um problema a ser resolvido, um estado que ameaça o sujeito em sua identidade e na percepção de si mesmo (Turkle, 2012).

A utilização da tecnologia como "acompanhante", como olhos e ouvidos, vem dar conta de uma solidão e um desamparo que é sintomático na sociedade contemporânea como esta está configurada, na qual as pessoas vivem mais sozinhas, têm famílias menores e as comunidades são menos presentes enquanto grupo social significativo.

Vejam que,  na medida em que acontece mais e mais a virtualização de nossas vidas diárias, o Real passa a ser sentido como traumático e excessivo, tendo que ser convertido em algo de ficcional para então poder ser integrado.

Se a saída para a virtualidade busca uma fuga da solidão, uma tentativa de compartilhamento de toda espécie de laços, na forma de fotos, opiniões, informações, enfim, uma maneira das pessoas se fazerem presentes umas na vida das outras, estaríamos criando um deserto do real?

Comer, comer.....não comer....normal ou patológico?

Aquilo que você come – ou deixa de comer – pode se tornar um caso médico. Hábitos alimentares são considerados doentios quando interferem na saúde física e mental, deteriorando até as relações pessoais e profissionais da pessoa.
As causas desses distúrbios são muitas: vão da predisposição genética ao esforço para se adequar a padrões estéticos estabelecidos por figuras famosas. Por envolver fatores tão variados, a própria definição de transtorno alimentar é objeto de discussão: os únicos que recebem essa classificação da Organização Mundial da Saúde são a anorexia e a bulimia.

Descritas desde o antigo Egito, essas doenças se tornaram muito mais comuns nas últimas décadas – fala-se inclusive em uma epidemia, gerada pelo culto ao corpo perfeito. Exageros à parte, essas síndromes afetam hoje cerca de 1% da população mundial, sobretudo mulheres adolescentes e jovens.
Apesar de terem em comum a preocupação com o corpo, existem diferenças fundamentais entre os dois distúrbios. “Meninas com anorexia têm uma grave distorção de sua auto-imagem, enxergando-se sempre muito mais gordas do que são”, diz o psiquiatra Fábio Salzano, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na busca por emagrecer cada dia mais, elas simplesmente param de comer e viram esqueletos humanos. Para ser considerada anoréxica, é preciso ter um peso muito abaixo do estabelecido como saudável.
Já a distorção de imagem de uma bulímica é bem mais sutil. Elas não querem engordar, mas adoram comer. Têm ataques compulsivos seguidos de muita culpa, que procuram aliviar provocando vômito ou tomando laxantes e diuréticos. “As meninas bulímicas têm, necessariamente, peso normal ou acima do normal”, diz Alexandre Azevedo, também do HC paulistano.
Mas o universo dos desvios de comportamento envolvendo comida ultrapassa a bulimia e a anorexia. O cardápio de problemas vai da incapacidade de perceber quando o estômago está cheio até a fixação por alimentos exóticos. Os tratamentos variam de acordo com a doença, mas podem incluir remédios, psicoterapia e reeducação alimentar.