sábado, 5 de novembro de 2011

ABORTO E CULPA

Ela tem 53 anos, dois filhos.Carrega consigo uma culpa que não a deixa em paz. Diz: "eu abortei aos 17 anos, me convenceram a fazer isso, depois disso carrego esse fardo comigo até hoje".


A maioria das mulheres que abortam carregam culpa dentro de si.Em diferentes graus, a culpa pode ser tanta a ponto de tomar conta da vida da pessoa e impedí-la de seguir em frente, ter novos filhos, trabalhar e investir na carreira, etc.



O problema do abortamento está na culpa: o ato já foi consumado? Então está na hora de perdoar-se. Enquanto você, mulher, não se perdoar, não poderá reparar a sua culpa.


O que quer dizer "reparar a culpa"? Primeiro, perdoando-se.Sem o auto-perdão, você não vai conseguir atingir o próximo passo que é agir. Procurar reparar a sua dor de uma forma que a faça sentir-se realizada: seja permitindo-se ter outros filhos e curtindo a maternidade, tornado-os conscientes para um mundo melhor, seja ajudando em um trabalho voluntário junto a crianças em orfanatos, ONG's...O importante é perdoar-se e recomeçar.Isso não significa apagar o passado, mas torná-lo menos penoso e continuar crescendo como ser humano.

Perdoe-se.Continue em frente e progrida.Você pode ajudar muitas mulheres que, no desespero e sem orientação, podem evitar cometer o mesmo erro que você cometeu.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Escrava de si mesma





Ela está sempre na cozinha.Sempre a fazer a comida para o marido, para os filhos que já são adultos e casados.Eles levam tudo prontinho, nos finais de semana.Encarquilhada no seu corpo combalido pelo tempo e pela luta da vida, esqueceu que é uma mulher, que tem dores e doenças.Nada importa, só o trabalho.Teme ser chamada de vaidosa, por isso não se cuida - sequer da saúde.Sempre viveu cuidando dos irmãos; parou de estudar para cuidar deles.Agora, aos sessenta e tantos anos, não consegue de parar de cuidar dos filhos, que, mesmo casados, se aproveitam da situação cômoda de ter uma mãe que lhes provê alimento, e até mesmo as compras de casa.


Ela não consegue e nem quer fazer diferente.Cuidar de si?! Ninguém a ensinou a fazer isso.Beleza?Outrora fora bela, cobiçada, e seus pais a "protegeram do mundo", vindo a casar com um homem que só sabe trabalhar compulsivamente.Ela se acha na mesma obrigação: trabalhar- em prol dos outros, e jamais de si mesma.


Quando compra algo para si, é como se cometesse uma infração.Egoísmo não faz parte do vocabulário, tampouco auto-estima.Os únicos momentos em que está feliz é quando cuida de suas plantas...belas flores e frutos que cultiva em seu pequeno jardim.Porque as plantas???Elas não julgam, não perguntam e nem questionam - e essas são as coisas que ela mais teme.


Há perspectiva de mudança dessa mulher?Perguntem as plantas.Só a vida dirá.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Não é depressão.É medo



Muito sono era sua queixa.Sem vontade de fazer as coisas, segundo me contava.Parou de estudar quando casou, há 2 anos.Gostaria agora de voltar a estudar e trabalhar.O marido apóia, mas, segundo ela, " não me incentiva".O casal optou por não ter filhos, por enquanto.Alimenta-se  normalmente, boa aparência, digo, unhas e cabelos cuidados, bem vestida.Fala de forma tranquila, com detalhes de sua vida.


"Eu tenho depressão".Já me trouxe o diagnóstico."Se não estivesse deprimida, teria iniciativa para sair de casa, procurar trabalho, retornar a faculdade".Quando pensa em fazer isso, sente-se cansada e com sono.E dorme.Dorme de tarde, quando geralmente já terminou as tarefas do lar e não há mais nada a fazer.


A medicação antidepressiva parece ser a solução.Para ela.Curiosamente, seu humor não está deprimido.Fala dos fracassos do passado, pessoais e profissionais, e, principalmente, do quanto se arrepende de não ter ousado mais na vida e feito escolhas que ela queria e não as que supriam a expectativa alheia.Tem medo de que tudo o que venha a fazer não dê certo.Acredita que foi vítima das circunstâncias do passado, que "não teve a sorte de muitos".


Medo, vitimização e culpa perpassam todo o seu discurso.


Antidepressivos resolvem???



domingo, 21 de agosto de 2011

A banalização do patológico



Veio através do seu esposo, que a trouxe.Prefere ser consultada sozinha.Conta que seu marido reclama que ela tem "mania de " vomitar após algumas refeições, principalmente as mais calóricas.Pergunto-lhe no que posso ajudar.Disse que "nada", que achava vomitar "natural", não havia o que tratar.Conseguia manter seu peso, sem "traumas"."Vomitar não é traumático?", pergunto."Fácil, nem coloco o dedo para isso".

Quantas mulheres e quiçá, homens mantém o ato de binge eating, vomitam e convivem com isso sem achar necessário uma avaliação e tratamento? E aí vem a pergunta, cultural histórica, se lembrarmos que medievais faziam lautas refeições e vomitavam em seguida para comer ainda mais: tratar ou não tratar? Melhor: quando tratar, ouso perguntar, em meio a uma sociedade consumista e quase que "naturalmente compulsiva"?


SESSÃO FILOSOFIA: MEDO, RELIGIOSIDADE E CULPA

domingo, 26 de junho de 2011

"Melhor não mexer nisso"


Fazia uso de antidepressivos desde a adolescência, quando, as vésperas de sua formatura em publicidade, tentou suicídio.Faz 20 anos que isso ocorreu.Desde então, não parou mais de tomar antidepressivos."Eu conheço todos os antidepressivos do mercado", diz, com certo orgulho.Pergunte-lhe se tentara suicídio outras vezes."Não de forma séria", diz, cabisbaixa."As duas outras vezes foram quando eu me separei e quando passei o réveillon sozinha, em 1982".Nunca terminou uma psicoterapia."Ela (a psicoterapia) perde o sentido no meio do caminho".

Atualmente, faz uso de antidepressivo apenas."Minha vida é um tédio, do trabalho em uma agência publicitária, onde faz "um trabalho praticamente burocrático" para casa e vice-versa".Mora sozinha com seus dois cachorros, que trata "como se fossem os filhos que eu não tive".

Pergunto se não gostaria de reiniciar uma psicoterapia, pois reclama que sente-se sozinha e sem perspectivas.Taxativamente, responde: "melhor não mexer nisso".

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Por que discutir desarmamento e ignorar a saúde mental?

CRISTIANE SEGATTO


Uma semana depois da tragédia de Realengo, o foco do debate sobre o que fazer para evitar que ela se repita continua deslocado. Gastamos muita energia discutindo desarmamento e quase nenhuma discutindo saúde mental. Sou da paz. Quanto menos armas circularem livremente pelo país, melhor. Desta vez, no entanto, elas não são o ponto fundamental. 

O gatilho do massacre de Realengo foi uma mente perturbada. Se não tivesse fácil acesso aos revólveres, Wellington Menezes de Oliveira poderia ter colocado uma bomba na escola. Ou, quem sabe, lançado um aviãozinho sobre o prédio (se tivesse dinheiro suficente para concretizar seus delírios de grandeza inspirados pelo ataque terrorista às Torres Gêmeas). 

Também não faz sentido insistir em medidas espetaculosas como instalar detector de metais em escolas. Esse tipo de providência garante uma falsa sensação de segurança, mas não atinge o essencial. Pessoas como Wellington podem promover ataques no metrô, em shows, em estádios de futebol, nas ruas mais movimentadas. O rapaz voltou à cena escolar porque pretendia se vingar das humilhações que dizia ter sofrido ali. E se as humilhações tivessem ocorrido em outro lugar? Teria adiantado instalar detector de metais e fechar a escola para a comunidade? 

A questão essencial é que Wellington não soube lidar com a humilhação. Muitas pessoas são ridicularizadas nas escolas e, nem por isso, reagem como ele reagiu. O bullying não é bom para ninguém e pode deixar marcas profundas. Felizmente, a maioria das pessoas consegue mobilizar recursos internos ou externos para superá-lo. Por que Wellington não conseguiu? 

Não conseguiu porque foi abandonado à própria sorte. Muitas pessoas perceberam que ele dava sinais de perturbação. Antes de qualquer coisa, Wellington precisava de atenção psicológica e psiquiátrica. Segundo um irmão que prefere não se identificar, ele teria passado por algumas poucas sessões de psicoterapia por recomendação da própria escola. Depois de algum tempo, teria se recusado a continuar. 

Com a morte da mãe adotiva, Wellington ficou sozinho no mundo. Sem amigos, sem familiares por perto, sem esperança de reconciliação com a vida em sociedade, tramou a vingança durante longos meses. O isolamento social contribui fortemente para a insanidade mental. Sem uma pessoa por perto para dizer que interpretava a realidade de forma errônea e estava embarcando num delírio, Wellington tornou-se um terrível algoz. É preciso dizer, porém, que antes de tudo ele foi vítima. “Esse rapaz foi vítima de desassistência e omissão, uma situação que não é incomum”, diz Valentim Gentil, diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Se os conflitos dele tivessem sido resolvidos, é possível que esse desfecho fosse evitado”. 

Onde alguém encontra ajuda no SUS para resolver seus conflitos? A política de saúde mental e de atendimento a dependentes químicos do Ministério da Saúde está montada de tal forma que a atenção psicológica e psiquiátrica está totalmente aquém das necessidades da população. 

Mesmo que a família ou os vizinhos tivessem tentado levar Wellington ao psiquiatra é possível que tivessem dado com a cara na porta. “A população deveria poder ir a um posto de saúde e encontrar um psiquiatra lá. Não conheço nenhum que tenha”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

Se o posto de saúde não resolve, a família teria então que procurar um pronto-socorro? Outra miragem. A grande maioria não dispõe de equipes especializadas. Os poucos serviços com gente capacitada a prestar atendimento de saúde mental vivem constantemente lotados. Além disso, não têm para onde encaminhar os pacientes que precisam de atendimento hospitalar. 

Uma pesquisa realizada no município de São Paulo em 2005 dá a dimensão de um problema que é nacional. Mais de 40% dos pedidos de internação não puderam ser atendidos por falta de leitos em hospitais psiquiátricos. As dificuldades das famílias em encontrar atendimento para seus doentes foram corajosamente narradas pelo poeta Ferreira Gullar em uma reportagem publicada por ÉPOCA

Por outro lado, muitas das emergências psiquiátricas decorrem da falta de atendimento ambulatorial efetivo. Se existissem ambulatórios psiquiátricos com profissionais e recursos suficientes para atender corretamente à demanda, talvez muitos doentes não chegariam ao ponto de precisar de uma internação. 

Como ambulatórios psiquiátricos são raridade dentro do nosso sistema de saúde, o paciente acaba atendido por médicos generalistas que não são treinados para diagnosticar e tratar sequer os transtornos mentais comuns de crianças a idosos. 

Se não desistir de buscar ajuda depois de tantas idas e vindas, a família costuma bater às portas dos hospitais universitários. Eles prestam um bom serviço, mas, obviamente, estão sempre sobrecarregados. “Hoje na cidade de São Paulo há entre 25 e 40 pessoas aguardando vaga para internação nos pronto-socorros. Ficam amarradas, esperando aparecer um leito em algum lugar”, diz Gentil. 

Nos últimos 20 anos, cerca de 70% dos leitos psiquiátricos do país foram fechados. A política adotada pelo Ministério da Saúde prevê que os doentes sejam atendidos em Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Nesses locais, o paciente recebe medicação e acompanhamento semanal. A ideia é atendê-lo sem retirá-lo do convívio da família e da comunidade. Segundo essa orientação, mesmo nos momentos de crise o doente deve ser atendido nos Caps. Ele passaria alguns dias internado na própria instituição (ou em hospitais comuns, com alas psiquiátricas) e depois voltaria para casa. 

“Uma pessoa que busque atendimento de saúde mental para um familiar pode se dirigir diretamente a um CAPS. Ela será acolhida e, caso o CAPS não tiver expertise para atender o caso, o paciente será encaminhado a outro lugar”, diz Roberto Tykanori, coordenador da área técnica de saúde mental do Ministério da Saúde. 

Na prática a coisa é mais complicada. No Rio de Janeiro, há apenas um CAPS III, a modalidade de centro que atende 24 horas por dia. “O número de CAPS III ainda não está dentro do parâmetro que gostaríamos de ter. Estamos em discussão para atender mais gente dentro do sistema”, afirma Tykanori. 

Segundo ele, o estado do Rio tem leitos psiquiátricos demais. São 6.224, mais do que qualquer outro lugar do Brasil. “Não podemos deixar que a rede fique centralizada num único tipo de serviço. É preciso tornar a rede mais próxima das pessoas para que aumente o acesso a ela. 

Ninguém defende que os doentes sejam trancafiados em manicônios e vivam em condições degradantes. Imaginar que em 2011 tratamento psiquiátrico seja isso é negar os avanços alcançados pela psiquiatria nas últimas três décadas. É preciso reconhecer que doentes mentais têm recaídas e podem precisar de internação. Quando isso acontece, as famílias não têm para onde correr. 

“Estatística é como biquíni: mostra muita coisa, mas esconde o essencial”, diz o psiquiatra João Romildo Fanucci Bueno, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O Ministério da Saúde diz que o Rio tem quase 6.300 leitos, mas se esquece de esclarecer que a vasta maioria deles é ocupada por pacientes-residentes, gente que não tem condições de se tratar nos CAPS ou nas chamadas “residências terapêuticas”. 

Falta que a estatística revele o número real de leitos psiquiátricos disponíveis e o tamanho da desassistência. A discussão é longa, mas não devemos perder a chance de trazê-la à tona. Desta vez, a oportunidade surgiu com o caso de Realengo. Esperamos que ela prossiga, de forma produtiva, antes que outra tragédia ocorra. 

É preciso lembrar que a maioria dos doentes mentais não comete agressões como a executada com tanto planejamento por Wellington. “Devemos ter medo dos não-loucos. Ou seja: daqueles que nascem com transtornos de personalidade ou cometem violência pelo uso de drogas”, diz o psiquiatra forense José Geraldo Taborda, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. 

Embora seja difícil fazer um diagnóstico depois da morte do rapaz, a hipótese mais plausível é a de que ele tivesse um grave transtorno de personalidade. Quem sofre disso nasce com o problema. As condições familiares e sociais podem amenizá-lo ou acentuá-lo. Não há tratamento comprovadamente eficaz. Mas os médicos acreditam que psicoterapia, medicação e ressocialização ajudem. Em último caso, quando nada funciona e o risco à sociedade é iminente, a lei prevê a possibilidade de internação involuntária (desde que o caso seja comunicado ao Ministério Público e acompanhado por ele). 

Vivemos numa sociedade enlouquecedora. Mais importante do que especular sobre o diagnóstico de Wellington é o diagnóstico de que não estamos dando a devida atenção aos doentes mentais, aos dependentes químicos e aos portadores de transtorno de personalidade. Azar de todos nós. 



URL: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI226376-15230,00.html

domingo, 10 de abril de 2011

Mass Murder de Realengo, Por Dra Hilda Morana

Dra Hilda Morana é psiquiatra forense e uma das maiores autoridades em estudos de psicopatas do Brasil e do mundo, com diversas publicações nacionais e internacionais;Nessa entrevista ao público, ela esclarece o caso recentemente ocorrido sobre a tragédia ocorrida em um colégio em Realengo, Rio de Janeiro, onde várias crianças, principalmente meninas, foram mortas em sala

/especialista-em-psicopatias-fala-sobre-os-diferentes-tipos-de-disturbios/1479974/


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Agradar ou ser feliz?



Muito educada, filha de imigrante de italianos.Seu porte e sua beleza chamam a atenção assim que adentra o consultório, principalmente seu olhos negros e profundos."Bem casada", como faz questão de dizer.Cursou a faculdade de letras.Estudou a língua e literatura italianas.Não exerceu a profissão, pois casou-se e o casal optou que ela se dedicasse exclusivamente à família.

Tiveram um casal de filhos, hoje adolescentes. Aos 47 anos, diz sentir-se deprimida; sua vida, relata, é desprovida de sentido.Seus filhos não quiseram estudar a língua italiana.Seu marido, brasileiro, não aprecia as mesmas coisas que ela: música, artes, literatura.É como se, tendo gostos a parte, vivessem em mundos diferentes.Ela procura agradá-lo: assiste aos jogos de futebol que ele adora, sai com os amigos dele, frequenta os restaurantes que ele aprecia.E o que faz para si, pergunto? Longo silêncio.Queixa-se de insônia e irritabilidade.Não tem iniciativa de fazer nada, limitando-se a ficar dentro de casa. Não consegue emagrecer nem levar uma dieta adiante.Vêm lendo livros de auto-ajuda, mas continua na mesma.

E a língua italiana, a literatura, pergunto.Conta que, desde que seus pais faleceram, não mais conversa em italiano.Sua faculdade ficou para trás.Faz anos que não lê nem ouve uma música na língua querida.

De chofre, pergunta-me "Vai tratar minha depressão, doutora?. No que respondo que medicação ajuda a aliviar alguns sintomas.Mas as saudades, liberar o seu lado espontâneo, realizar os seus desejos, o que você realmente gosta de fazer e o que lhe dá prazer, sem ter que agradar aos outros, remédio nenhum pode fazer.Agradar-se a si mesma, dar-se parzer não vai estragar o seu casamento.Vai fazê-la feliz.

Pensemos nisso.Todos os dias.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Sou ansioso"


Já adentrou o consultório desculpando-se por estar um pouco atrasado.Senta-se e antecipa, sem que eu nada perguntasse, que sempre foi ansioso e que agora isso está se tornando um problema.40 e tantos anos, jovem empreendedor de sucesso.Acredita estar "demenciando", pois a memória vem lhe traindo ultimamente.Perda de memória, queixa comum em adultos jovens com transtorno de ansiedade.

Não parava de sacudir as pernas, inquietas e , numa cascata de preocupações, refere-se a filha, de dois anos de idade.Preocupa-se com seu futuro, o que será ela diante das drogas, da moral e dos bons costumes nos dias conturbados de hoje.Até comprou alguns livros de matemática e literatura clássica para quando ela crescer.Preocupa-se com o futuro da esposa,se um dia ele vier um dia falecer.Que os negócios são sempre instáveis e que é preciso estar sempre preparado para imprevistos na economia.Insônia tem sido uma constante.Fica a pensar no dia seguinte, nos afazeres que não poderá postergar sobremaneira.

Se permitisse, ficaria a dissertar um universo de questões futuristas que o angustiam, num presente que não consegue vivenciar.Meditar, nem pensar.É um indivíduo que tudo antecipa,premedita, como se o futuro e seus acontecimentos estivessem em suas mãos.O "aqui e agora" não é usufruído na sua plenitude.O presente passa, mas só o futuro é o que importa. E o futuro nunca chega.

Não admira ser tão ansioso.Viver o que ainda está por vir, mesmo que num futuro iminente, inevitavelmente gera ansiedade. A pré-ocupação é um termo interessante: nos ocupamos de algo que ainda não ocorreu, e , ao mesmo tempo, não damos conta daquilo que nos importa momento presente.

Medicação ajuda? Em parte.Enquanto não mudar de tempo verbal, dificilmente terá uma qualidade de vida menos sofrida.Ansioso sofre...como sofre.

sábado, 2 de abril de 2011

"Meu Problema é meu marido"





Trouxe-o consigo.Ela, com fácies de mau humor. Ele adentra o consultório com um sorriso tímido, murmurando um "bom dia". Nada mais diz depois disso. Ela conta que seu problema é seu marido; que desde que ele fez uma cirurgia cardíaca - aponta para a cicatriz na região torácida dele - ela vive irritada,de mal com a vida.Na verdade, reitera, sempre foi mal humorada, mas desde que ele "quase se foi" e ela teve que redobrar cuidados para com o cônjuge, sua irritabilidade piorou.Solicita-me que aumente o seu anti-depressivo, pois há anos vive com essa dose baixa que não serve de nada.Não gosta de sair, nem de passear.Tampouco gosta de ver gente na rua.Caminhada pelas ruas, nem pensar.Olho para seu esposo e ele só sorri, timidamente, sem esboçar palavra. Pergunto se realiza psicoterapia e ela diz que sim, mas que de nada adianta.Sugiro que aumente a frequência das sessões da psicoterapia e aumento o antidepressivo. Ela me pergunta se agora tudo vai se resolver.Olhando-a nos olhos digo que não, que só vai ajudar um pouquinho. Ela me olha, assustada.Como não? Digo que seu problema não é seu marido.Seu problema é ela mesma. Fica me olhando, sem entender. Despedimo-nos e pergunto: "Porque não aproveitam para não dar um passeio pelos arredores? Abriu uma sorveteria nova aqui pertinho. Já é um bom começo.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tristeza ou Depressão?




Depressão é diferente de tristeza.

Depressão é doença.Tristeza é sentimento.

Muitas vezes, nos encontramos tristes; seja por não termos acesso ao que desejamos ou por termos dificuldades e obstáculos em nosso caminho.

Não é fácil lidar com a tristeza.Ela dói.Dói, mas passa.Dependendo do indivíduo, sua personalidade, suas vivências anteriores, seus mecanismos de defesa, ele consegue lidar com a tristeza de diferentes formas.Geralmente, busca subterfúgios para anestesiá-la: seja através de medicações, álcool, consumismo, etc.Há aqueles que tentam escapismos digamos, mais saudáveis: praticam esportes, buscam o lazer para distração e esquecimento.O diálogo com alguém mais íntimo também é profícuo.Existem uns poucos que procuram “mergulhar” em sua tristeza e trasnformá-la em algo traduzível em palavras, junto a um amigo de confiança.Transdução de sentimento em palavras é dom de escritores.Poetas e escritores são bons nisso.Clarice Lispector foi uma expert no assunto.Dentre tantos outros.

O perigo jaz em transformar a tristeza num modus vivendi.Corre o risco de se cronificar e estender a todos os níveis da vida do indivíduo a lente da tristeza, amplificando-a de tal modo a ponto de prejudicar diversos âmbitos de sua vida: laboral, familiar, lazer, vida pessoal.Nesse sentido, a amplificação do sentimento pode atingir proporções que fogem ao seu controle.Talvez, aí, devamos ficar alerta a um possível início de um quadro depressivo, mesmo que leve, em fase inicial.Nem todos deprimem, mas, em muitas circunstâncias de stress ambiental, crises existenciais e perdas importantes, sejam elas materiais ou pessoais possam ser o gatilho para um futuro quadro depressivo, mesmo que transitório.Devemos, pois, ficar atentos.